Não grite por um mundo melhor

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     A cada ano que passa, torno-me mais sensível aos decibéis das palavras. Talvez seja a necessidade de mansidão que vem chegando com a idade ou os fones de ouvido que vem reduzindo a capacidade auditiva do mundo, o motivo eu nunca serei capaz de diagnosticar, mas o fato é que as pessoas gritam cada vez mais. 

     E como tão diversa é a população do planeta, mais diversa são as motivações para o grito: há quem grite somente para se fazer ouvir, como também há quem precise gritar para se impor, porque quer ferir, porque necessita se ouvir, porque gritar é uma forma simbólica de dizer "eu posso mais que você".

     Há um lenda indiana que tenta explicar esse fenômeno do grito, nos mostrando que quando duas pessoas estão aborrecidas, seus corações se afastam muito, e para suprir a distância precisam gritar para escutarem-se. Sendo assim, quanto mais aborrecido se está, mais forte serão os gritos. E se isso, por si só já não fosse muito triste, há quem recheie seu discurso com expressões e entonações que não disfarçam a opção por agredir e incomodar. Como se cada conversa fosse uma oportunidade de subir no ringue, tentar vencer e expor o prazer dessa conquista desnecessária.

     O tom de uma conversa é bem diferente ao de uma contenda. Argumentar e defender pontos de vistas é diferente de impor opiniões. As palavras já são armas com potencial letal muito alto para ainda somar à elas o grito. Afinal, o grito tem o poder de mexer com o equilíbrio do mundo, pois não é natural, não somos seres geneticamente preparados para o grito.

      E o mais maluco em tudo isso, é que as coisas boas da vida são ditas em tons baixos. A mesma lenda indiana, que me referi a pouco, também oferece uma reflexão muito bonita sobre este fato, segundo ela, quando as pessoas estão em harmonia, apaixonadas, de bem com vida, seus corações estão muito perto, e sendo a distância entre eles pequena, não há a necessidade de gritar. Simples assim!

     Em resumo: não gosto de gritos. Não gosto que gritem comigo, tampouco gosto de mim quando o faço também. Nem mesmo quando escrevo faço uso de sinais gráficos que potencializem a expressão do que quero dizer. Nada de caixa alta ou milhares de pontos de exclamação. Gosto de pausas e canções, de gestos intensos e palavras doces, de olhares quentes e expressões serenas, e de corações próximos ao meu.

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